No início do mês de julho deste ano tive a oportunidade de sentar-me como espectador de uma sessão do Tribunal do Júri onde dois grandes amigos atuavam, um na acusação, outro na defesa.
O caso se tratava de um cidadão que era frequentemente ameaçado por um vizinho, que lhe mostrava uma arma de fogo e espalhava pela cidade que um dia iria acabar com a vida dele e de seus familiares. Certo dia, temendo ser morto, o cidadão tomou a iniciativa e disparou seis vezes contra o vizinho que lhe ameaçava.
O caso repercutiu na pequena e pacata cidade onde as partes viviam e não só eu, mas uma série de pessoas sentaram-se para assistir o julgamento.
Às vezes, como espectador de um júri nos permitimos perceber coisas que não perceberíamos se estivéssemos atuando no plenário. Nos permitimos apreciar as expressões, sentimentos e angústias dos familiares, tanto do réu quanto da vítima.
Como espectador eu pude ouvir não só um excelente debate entre os colegas, mas também todos os murmurinhos e comentários ao pé do ouvido que cada família fazia entre si.
Percebi que aquelas famílias não estavam divididas apenas por uma ou duas fileiras de cadeiras vazias, mas sim por um intransponível e muitas vezes despercebido muro invisível.
De um lado do muro aqueles que achavam que o réu deveria ser condenado, pois cometeu a maior de todas as atrocidades, tirar a vida de um homem. Do outro lado do muro haviam aqueles que juravam por tudo o que é mais sagrado que o réu teria agido de forma correta, pois, se não o fizesse, certamente seria ele o morto.
Passei horas ali, apenas ouvindo e observando. Aprendi muito, como advogado e como ser humano.
O muro invisível que dividia aquelas duas famílias me fez perceber que o nosso conceito de justiça é muito mais fluido do que imaginamos. Assim como a água se amolda ao recipiente em que é colocada, o conceito de justiça se adequa às realidades, vivências e saberes de cada um.
Não existem livros para definir o que é justiça. Não existem palavras para afirmar o que é ou não justo para cada pessoa. O que era justo para a mãe do réu não era justo para a mãe da vítima e vice-versa.
E sobre o resultado do julgamento? Esse não importa, pois independente do que ali aconteceu alguém saiu injustiçado.
Matéria elaborada pelo Advogado Roberto Weiss Kist, especialista em Direito Penal e sócio fundador do escritório Agostini Böhm & Kist.
OAB/RS 96.016
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